Thursday, April 19, 2012

Como ouvir


Um dos maiores desafios para o estudante de uma língua estrangeira é ser capaz de ouvir e entender o que é dito. Livros e cursos em geral enfatizam a prática de listening através de exercícios com cds de áudio. O que a maioria dos estudantes não sabe é que muito de sua dificuldade pode ser minimizada pelo uso consciente de estratégias ao ouvir. Essas mesmas estratégias são utilizadas naturalmente por qualquer um de nós quando conversamos, bisbilhotamos anonimamente conversas alheias no ônibus, assistimos TV ou uma palestra em nossa língua materna. Quero ilustrar algumas dessas estratégias com o seguinte exemplo que observei na minha família.

Em fevereiro deste ano, ao ouvir dos adultos o comentário "Vocês viram que a Whitney Houston morreu?", meu sobrinho de oito anos imediatamente perguntou "Quem? A Britney Spears?".

Um menino de oito anos em 2012 não teria como saber da existência de uma pessoa chamada Whitney Houston. No entanto, ele foi capaz de captar que a conversa girava em torno de cantoras. Foi então que ele usou o seu conhecimento de mundo e se arriscou a identificar o que ouviu com aquilo que lhe era mais familiar: "Whitney" só podia ser "Britney".

Esse exemplo aparentemente mal-sucedido de compreensão esconde diversas lições que fazem parte do repertório de um aprendiz de idiomas bem-sucedido. Ouvir não é algo passivo; não é um processo no qual apenas percebemos sons. Ouvir é um processo ativo, durante o qual buscamos em nosso conhecimento os meios de entender o que escutamos.

O emprego consciente das seguintes estratégias pode ajudar a fazer do listening algo mais eficaz:

1. antes de escutar, saber que assunto está envolvido - música, esportes, moda, clima, política, comida, compras, etc.;

2. saber o tipo de discurso que ouvirá - diálogo presencial, palestra, conversa por telefone, trecho de um noticiário, conto, entrevista, etc.;

3. baseado nessas informações preliminares, antever o vocabulário que poderá ser usado - que palavras ou expressões são esperadas;

4. ter em mente um objetivo ao ouvir o áudio, ou seja, uma informação específica a ser buscada durante o listening - em que ambiente ocorre, quantas pessoas envolve, quais suas profissões, idades ou nacionalidades, atitudes ou opiniões expressas, números ou outros dados, etc;

5. durante o listening, não perder a atenção do que se busca, sem se fixar nos detalhes que não sejam relevantes (e que podem ser muitos).

Não é apenas a prática, mas a prática consciente sobre o que estamos fazendo que pode ampliar as chances de sucesso de ouvir e entender corretamente.

Monday, November 28, 2011

Quem é dono do inglês?


Esse é o tema da palestra que darei no próximo dia 01 de dezembro (quinta), na Facad/Senac. A palestra abordará o inglês como língua franca, uma língua que proporciona a comunicação entre falantes de diferentes línguas, os quais não têm necessariamente o falante nativo dos EUA ou Reino Unido como um modelo ideal.

O endereço é Rua Coronel Genuíno, 358, no centro de Porto Alegre. Início às 19 e término previsto para as 20 horas. A palestra será ministrada em português.

Wednesday, August 31, 2011

"Aprenda inglês em 24 horas"


A frase acima era usada, anos atrás, na publicidade de uma rede de escolas de inglês que prometia um domínio do idioma após 24 horas-aulas. Como uma promessa assim soa ridícula demais, os milagres prometidos hoje nesse mercado falam geralmente em termos de meses. Mas, ainda que de forma menos agressiva à inteligência dos seus potenciais consumidores, algumas escolas de idiomas seguem anunciando que possuem um método milagroso que faz a pessoa aprender mais rapidamente.

O fato é que não há um método milagroso para o aprendizado de idiomas, assim como não há uma única técnica (repetição, tradução, memorização, etc.) que deva ser usada para o ensino. O tempo que deve ser utilizado para o aprendizado depende da disponibilidade do aluno, dos seus objetivos e características pessoais.

Muitos métodos que prometem fluência rápida estão baseados em ideias sobre o ensino de idiomas que surgiam na década de 1940, ignorando tudo o que se constatou nos últimos 70 anos! Baseados em repetição e tradução, muitos desses métodos podem funcionar bem inicialmente, dependendo do perfil da pessoa, mas geralmente tornam-se um fardo para o aluno depois dos mais níveis básicos.

Friday, August 26, 2011

Frustração

Frustração é algo que muitas vezes experimentamos ao aprender algo novo. Nem sempre aprendemos com a velocidade ou a facilidade que queríamos. Isso não é raro no estudo de uma outra língua.

Muitos alunos acabam se sentindo menos inteligentes ao não conseguirem expressar em inglês tudo o que gostariam de dizer. Em muitas situações em aula, eles poderia dizer coisas brilhantes e autênticas em português, mas não conseguem fazer o mesmo em inglês, cometendo erros que eles próprios vão considerar óbvios depois.

Essa frustração acontece porque é através da linguagem que mostramos nossa identidade, ou seja, quem somos. Não conseguir se expressar plenamente na nova língua pode mexer com a percepção que a pessoa tem de si mesma de uma forma negativa. É como se houvesse um retrocesso!

Saber lidar com esse sentimento é importante. É bom que o aluno perceba o exagero em afirmações do tipo "eu não sei nada" e perceba o quanto tem aprendido. Em outras palavras, é preciso ter paciência consigo mesmo e focar naquilo que tem alcançado. Um recurso interessante para isso é manter um registro de textos, atividades e mesmo gravações de áudio que mostrarão a evolução do aprendizado.

Frustração é um sentimento que a maioria dos alunos de língua estrangeira experimentam em maior ou menor medida. Mas é preciso ir além dela e experimentar também o lado prazeroso e desafiador do aprendizado.

Monday, August 8, 2011

Imagens


Diz o ditado que "uma imagem vale mais do que mil palavras". No aprendizado de uma segunda língua, uma imagem de fato pode nos dar em menos de um segundo a definição que exigiria muitas palavras.

Utilizar imagens é uma maneira eficaz e agradável de aprender vocabulário. Existem dicionários visuais - picture dictionaries - que ao invés de listarem vocábulos de A a Z, estão organizados de acordo com tópicos, tais como transporte, comida, roupas, utensílios, etc. Um bom exemplo de picture dictionary é o Oxford Picture Dictionary, com versões mono e bilíngues.

Outra forma de utilizar imagens para o aprendizado do inglês é com o Google Imagens. Os resultados da busca serão, em geral, precisos para substantivos referentes a objetos, animais, aparelhos, etc. Quer testar? Aqui vai uma lista de substantivos que talvez lhe sejam desconhecidos:

- eggplant;

- rope;

- frying pan;

- memory stick.

Ficou com dúvidas quanto à pronúncia? Use a barra horizontal que aparece acima da caixa de busca e escolha "Mais". A primeira opção, "Tradutor", trará o botão "Ouvir". É só clicar ali e escutar a palavra.

Sunday, August 7, 2011

Idade ideal?


Muitos acreditam que há uma idade ideal para aprender uma língua estrangeira. "Quanto mais cedo, melhor", dizem alguns. Às vezes tal ideia é utilizada - tanto por professores quanto alunos - para supostamente explicar deficiências no aprendizado ou sugerir que uma pessoa nunca será completamente fluente. Essa é uma daquelas crenças que mais atrapalham do que ajudam no processo de ensinar e aprender.

Há pessoas que iniciaram o estudo do idioma ainda na infância e nunca se tornaram capazes de utilizá-lo com naturalidade. Por outro lado, há aqueles que, pelos mais variados motivos, não puderam iniciar o estudo do idioma antes da idade adulta mas se tornaram fluentes.

Isso acontece porque há muitas coisas bem mais importantes do que a idade, como, por ex., a necessidade, o interesse, o ambiente de estudo, as oportunidades de utilizar o idioma, etc.

Aos que se sentem desconfortáveis por iniciarem o estudo do inglês já adultos, costumo contar um segredo meu: eu tinha 25 anos quando aprendi a andar de bicicleta! Provavelmente não era essa a "idade ideal", mas foi quando senti necessidade de aprender, motivação suficiente e encontrei dois grandes instrutores, pacientes e super motivados - meus sobrinhos que, à época, tinham 6 e 10 anos!

McDonald's do ensino de inglês


Em muitas redes de fast food, as fotos do menu são de dar água na boca. Mas ao receber o pedido, o sanduíche é bem menor, menos atraente e saboroso do que parecia!

Existem escolas de idiomas que se parecem com essas redes de fast food. O aluno compra o curso esperando o máximo, mas as aulas se assemelham àquele hamburguer sem graça que deixa a desejar no sabor e mal mata a fome, sem falar na pobreza de nutrientes.

E as semelhanças não param por aí. Além da suposta rapidez no aprendizado que prometem, tais escolas também se parecem com as redes de fast food pela pouca liberdade de escolha dada ao cliente. Não adianta pedir sushi ou churrasco no MacDonald's:) Da mesma forma, necessidades específicas de um aluno geralmente não encontram uma aula adequada em estabelecimentos de ensino que oferecem o mesmo "menu" para todos.